Cuidado recíproco

VÍDEO: no Dia dos Pais, filhas descrevem a felicidade de retribuir o amor paterno

Arianne Lima

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Foto: Pedro Piegas (Diário)

Quando pequenos, exigimos cuidado e atenção de nossos pais para crescer em sociedade. E na medida em que vamos envelhecendo, aqueles que cuidaram de nós passam a necessitar dessa reciprocidade. Engana-se quem acha que o carinho, o amor e a admiração invertem os papéis também. Bem pelo contrário. Os filhos que cuidam ou já cuidaram de seus pais agradecem pela oportunidade de retribuir os momentos, aprendizados e ensinamentos ancestrais.

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ROZICLER E ALBERTO

Quando nasceu no Hospital Universitário de Santa Maria, em 1976, Rozicler Aparecida Pozzani pesava 900 gramas e tinha diversos problemas de saúde. Mas a condição de fragilidade não impediu que o casal Alberto Pozzani e Catarina Helena Feltrin Pozzani adotassem a menina. Na luta pela saúde da filha, eles a 'entregaram' aos cuidados de Nossa Senhora. E com fé e assistência médica, os resultados vieram. O choro de Rozicler ao comentar sobre as lembranças de infância em hospitais e clínicas logo se transforma em um sorriso ao olhar para o pai.

Descendente dos últimos italianos a chegarem em Arroio Grande, Alberto nasceu em 29 de outubro de 1929. Filho de agricultores, passou por dificuldades e não pôde estudar. Aos 8 anos, ele saiu de casa para viver com a família de um conhecido em Santa Maria. No Coração de Rio Grande, ele aprendeu o ofício do qual se recorda até hoje: o de cuteleiro. 

- Quando comecei a trabalhar, fui fazer facas. Arrumar carroças, arco e até como ferreiro eu trabalhei - afirma, timidamente, o idoso de 91 anos. 

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Devido à idade, Pozzani ouve pouco. Cada reprodução de perguntas por parte da filha é um sorriso e uma risada, especialmente quando o assunto é longevidade e rotina após a aposentadoria, há quase 40 anos. Devido a um câncer, a esposa, Catarina, morreu em 2013, aos 70 anos. E Alberto optou por permanecer na casa onde o casal compartilhou 37 anos de suas vidas. A decisão não foi questionada por Rozicler, por acreditar na autonomia do pai. Entretanto, em 2015, uma ligação mudou o rumo da história.

- Eu estava em Santa Maria e, no final da tarde, uma vizinha viu que ele não havia acendido a luz da casa e ligou. Ele havia sofrido uma isquemia e foi encontrado caído. Nós conseguimos socorrer. Mas, quando o levamos, foi bem complicado. E disso ficou uma baita sequela. Ele já não conseguia manter os movimentos e não dava mais para eu deixá-lo lá (em Arroio Grande) - comenta a filha, ressaltando que o pai arrumava a casa e fazia caminhada, mantendo uma rotina completa sozinho antes do ocorrido. 

Com os remédios que amenizam os sintomas do Parkinson, de epilepsia e de problemas cardíacos, Pozzani mantém uma rotina tranquila, na qual a autonomia está nos momentos em que precisa arrumar a própria cama e tomar banho sozinho. A criação da neta, a estudante Amanda, 8 anos, é uma das preocupações do patriarca, que sempre orienta a filha a transmitir os ensinamentos e conselhos com amor. Para Amanda, ter aprendido a andar de bicicleta com o avô, aos 5 anos, foi importante. 

- Eu queria muito andar (de bicicleta), porque eu tinha amigos que já sabiam. Eles me ensinaram um pouco, e o meu vô, o resto. Ele tirou uma das rodinhas para que eu me equilibrasse, e eu fui indo, até que consegui - comenta a menina, que também conta sobre os momentos de brincadeira com massinha e um carrinho de controle remoto.

Ver a filha contente por desfrutar da companhia do avô aos 91 anos é motivo de satisfação para a agricultora. Aos 45 anos, Rozicler faz questão de falar sobre adoção, repassando a empatia e humanidade com que foi recebida assim que nasceu.

- Eu acredito que nada nessa vida é por acaso. Um dia, eu fui acolhida e, hoje, conto para todo mundo, porque não tenho vergonha nenhuma e acho uma história maravilhosa. Às vezes, tem pessoas que falam que não vai dar certo e que há 'n' problemas na adoção. Mas, eu acho que não há problemas. Nós podemos reverter situações e dar uma boa educação - afirma Rozicler, relembrando que os pais fizeram questão de lhe ensinar a amar o próximo.

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Foto: Pedro Piegas (Diário) / Amanda (à esq.), Alberto e Rozicler celebram as três gerações da familia Pozzani

Estudantes da UFSM representam o RS na modalidade acadêmica dos JUBs

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Foto: Marcelo Oliveira (Especial)

GEOVANA E PEDRO JAIME

A bacharel em Turismo e em Terapia Ocupacional Geovana Trevisan, 42 anos, guarda com carinho os registros de momentos com o pai, Pedro Jaime Trevisan.

style="width: 140.5px; float: right; height: 229.673px;" data-filename="retriever">Pai de Solange, Jeferson, Jarson, Alceu, Geovana, Tânia e Thaniélly, Trevisan sempre foi um empreendedor. Em Santa Maria, em 1964, abriu a ferragem Treviso. O empreendimento era motivo de orgulho e ponto de encontro com amigos. O convite para trabalhar com agricultura e agropecuária em Dom Pedrito veio em seguida. Em 1979, nascia Geovana. O nome de origem italiana foi dada por Pedro, que mantinha um senso de proteção quase indescritível pela filha. Durante a vida, a jovem foi estimulada a estudar e ajudar a quem precisasse. Exemplos ligados à verdade, caridade e compaixão eram frequentes em seu dia a dia, por conta do pai. Através da politica, Trevisan encontrou oportunidades de mudar a realidade de muitos. Foi vice-prefeito e prefeito de Dom Pedrito, de 1989 a 1992, e em cada missão, a filha o ajudava.

- Quando meu pai assumiu como prefeito, eu levava viandas para ele. À noite, eu e a Tânia saíamos para ver quais ruas não tinham luz. Fazíamos também um compilado das matérias sobre ele nos jornais. Eu sempre fui muito presente - comenta.

Após se separar da primeira esposa, em 1994, Pedro casou-se com Marlene Amaro, com quem permaneceu até os últimos dias. O carinho e o cuidado da madrasta completou a vida do pai e da filha, que viviam sozinhos em Dom Pedrito. Em 1998, Geovana veio para Santa Maria estudar em cursinhos e prestar vestibular para Turismo na Universidade Franciscana. As lembranças dos lanches e marmitas preparadas pelo pai para que se alimentasse durante as aulas é contada com felicidade e uma certa reflexão, pois, no fundo, a turismóloga acredita que essa era a forma que ele encontrava de fazer com que ela não desistisse dos sonhos.

- Eles vieram morar comigo, e nós seguimos acompanhando a doença do pai. Eu me formei em Turismo pela Universidade Franciscana, porque ele tinha medo de morrer antes de me ver formada. Ele pedia para a Marlene que nada me faltasse e que nunca se esquecesse de mim - afirma a filha, relembrando que o pai sempre buscava oportunidade de estágio ou serviço que auxiliassem em sua carreira. 

A partir do ano 2000, o quadro de saúde de Pedro Jaime foi se agravando, após os registros de infarto, Alzheimer e, principalmente, um acidente cardiovascular (AVC) em 2015, no qual ele perdeu a fala, parte da degustação e o movimento do lado direito do corpo. Apesar das dificuldades, a filha não desistiu de ajudá-lo e readequou a casa onde o pai morava para a nova condição.  Entre as mais de 36 internações nos últimos tempos, veio um momento de celebração. Em 22 de outubro de 2020, nascia Pedro Jaime Trevisan Zanini (foto ao lado). A homenagem ao pai, através do nome do filho, era um desejo antigo de Geovana, que é mãe também de Cecilia, 5 anos.

Após permanecer internado no Complexo Hospitalar Astrogildo de Azevedo, antigo Hospital de Caridade, durante sete dias por conta de uma pneumonia bacteriana, Pedro Jaime Trevisan morreu no inicio de agosto deste ano, aos 86 anos. As mensagens de agradecimento e carinho enviadas à família reforçaram uma certeza que Geovana já tinha: o pai era amado e respeitado por quem o conhecia. 

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Foto: Marcelo Oliveira (Especial) /  Geovana mostra a foto da família reunida, desejo de Pedro Jaime (ao centro).

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